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Roteiro pela serra catarinense

Conteúdo atualizado em 10 de janeiro de 2023

Contei aqui no post índice a razão de termos viajado para a serra catarinense, uma ótima surpresa pra quem, como eu, sempre associou Santa Catarina com praia… É chegado então o momento de explicar um pouco sobre essa região, que não é tão famosa e estruturada quanto a serra gaúcha – ambas na verdade são parte do mesmo paredão de pedra que começa lá no interior de Santa Catarina e termina perto de Nova Petrópolis, já no Rio Grande do Sul – mas que também tem lugares lindos.

Seu ponto mais famoso e conhecido (além da cidade de São Joaquim) é a Serra do Rio do Rastro, onde fica a estrada que corta as montanhas no ponto mais alto dentro do estado, cheia de curvas 360o à beira de abismos (quem conhece a Rod. Oswaldo Cruz aqui em SP, que liga Taubaté a Ubatuba, vai saber exatamente do que estou falando). Do lado de dentro das montanhas ficam Urubici, São Joaquim, Urupema e as outras cidades que aparecem todo inverno nos noticiários, com seus recordes de baixa temperatura e, eventualmente, neve. No mapinha abaixo dá pra entender bem como é o relevo:

Depois de bastante pesquisa e várias consultas a outros blogs de viagem, decidimos nos hospedar em Urubici, que apesar de não ser tão famosa quanto São Joaquim, de longe é a cidade da região que mais tem atrativos naturais (no post índice dessa viagem eu conto um pouco dessa escolha). Como as demais cidades da região, Urubici é bem pequenininha e muito rural – a cidade mesmo tem uma avenida principal, cortada por algumas poucas ruas, cercada de fazendas e chácaras por todos os lados.

O nosso primeiro dia de fato na serra – o sábado da maratona (também a história tintim por tintim lá no post índice), aquela em que malucos se inscreveram para subir a serra do Rio do Rastro correndo, marido incluído nesse grupo – começou bem, mas eu  o classificaria como o dia mais desastroso na nossa história de viajantes… e já todos vão entender porque.

Deixamos Urubici pela manhã rumo a Lauro Müller, onde seria a largada, com previsão de pouco mais de 3 horas de viagem. Nosso plano era almoçar no caminho ou lá mesmo, após descer calmamente a famosa serra, apreciando a paisagem. A largada seria às 16, marido tinha expectativa de fazer os 25 km em cerca de 3 horas, eu e os malinhas o esperaríamos voltar, e então retornaríamos para Urubici, subindo a serra à noite. Na nossa cabeça, Lauro Müller seria parecida com Urubici – uma avenida com lojinhas, restaurantes, cafés… eu estaria com o carro, nós três ficaríamos bem, fazendo hora por ali. Tolinhos.

Tudo ia bem até chegarmos próximo a Bom Jardim da Serra. A estrada estava fechada porque uma outra parte da mesma prova aconteceu de manhã, e só seria liberada para os carros após as 13h (fica aqui o meu registro da falta de educação e mau humor dos policiais que estavam fazendo o bloqueio, um pior que o outro). Era mais ou menos meio-dia, descemos do carro e ficamos no mirante que havia ali, de onde se tem uma vista linda da serra.

Quando finalmente liberaram a estrada, a descida demorou ainda mais que o esperado por causa da quantidade de carros – de todo modo é tenso, há curvas em que os ônibus e caminhões têm que manobrar, de tão fechadas que são. Mas a vista é magnífica e o tempo estava bem claro e ensolarado. Pra resumir, chegamos em Lauro Müller, no ponto de largada da corrida, às 15h30, sem almoçar, depois de ter que ir até Treviso (cidade próxima) pra pegar o kit (registro aqui também o transtorno que sempre é pegar esses benditos kits – por que os organizadores complicam tanto?)

Marido se foi e fiquei com os malinhas… naquela cidade onde não havia um restaurante ou café ou padaria decente num sábado à tarde. Com muito custo encontramos uma padaria e uma sorveteria, gastamos algum tempo numa pracinha, andamos um pouco, paramos no jardim da igreja, malinhas brincaram, improvisamos um piquenique no gramado… e aí nessa hora minha malinha mais velha vira e diz: “mamãe, agora eu sei como é não ter casa pra morar”. Quando escureceu, ficamos no carro jogando cartas e depois liberei o tablet pra eles brincarem. Agradeci do fundo do coração pelos meus malinhas serem crianças tão pacientes. Só pensava que aquele dia ia acabar e virar história pra contar – como de fato virou.

Finalmente marido chegou, exausto, quase 9 da noite, e pegamos o caminho de volta a Urubici – queria estar menos cansada pra ter apreciado mais o caminho. Os quilômetros finais da serra (pra quem está subindo), que têm as curvas mais acentuadas, são iluminados… vendo de baixo pra cima é quase inacreditável que somente alguns quilômetros separem todos aqueles metros de altura. Chegamos em Urubici sãos e salvos quase meia-noite, cheios de lições aprendidas e felizes por todos estarem bem (meio famintos, mas inteiros!). E no final das contas, se eu tivesse optado por ficar em Urubici com as crianças, teríamos perdido essa aventura de subir a serra à noite…

Tínhamos então mais dois dias pela região, suficientes pra conhecer todos os pontos importantes por ali. No dia seguinte, começamos pelas inscrições rupestres, a cerca de 5 km do centro de Urubici – são desenhos nas rochas datados de aproximadamente 4 mil anos atrás. Há uma placa no local mas senti falta de mais informações (nem no site da cidade há mais sobre os povos que habitaram aquele lugar). Super fácil acesso e malinhas adoraram imaginar quem seriam os “artistas” que desenharam na pedra.

Praticamente na frente desse local fica o Mirante do Avencal, na beira da estrada mesmo, de onde se vê toda a cidade.

Seguindo mais uns 3 quilômetros adiante, fomos em busca da Cachoeira do Avencal – que fica numa propriedade particular onde se cobra R$ 7 por pessoa para entrar (cobraram inclusive da minha malinha mais velha, que tem 7 anos). Há uma estrutura com banheiro e são oferecidas atividades como tirolesa e cavalgada (pagas à parte) – dentro da propriedade há também uma pousada, mas não chegamos a ver pois era um pouco mais distante dos mirantes da cachoeira.

A cachoeira é linda, uma queda muito alta no meio das pedras, visual fantástico. As fotos falam por si.

Pegamos novamente a estrada no sentido da cidade para tentar ir nos pés da cachoeira – há uma saída à esquerda, pouco antes de entrar em Urubici, onde se anda cerca de 8 km de estrada de terra em meio a fazendas e pousadas, até um ponto onde não dá mais pra ir de carro. Pegamos a trilha, no começo bem fácil, de terra batida, depois cheia de pedras, bem irregular – no todo não deve passar de 1,5 km, mas eu e os malinhas não conseguimos chegar aos pés da cachoeira por causa das pedras. Marido foi sozinho e tirou fotos lindas, nós ficamos vendo de longe.

Após uma pausa para o almoço, seguimos para conhecer as atrações mais famosas por ali: o Morro da Igreja e a Pedra Furada.

Para subir até o Morro da Igreja, que fica dentro do Parque Nacional de São Joaquim, é preciso pegar uma autorização na sede do parque (ICMBio – Av. Felicissimo Sobrinho, 1542). A autorização é por veículo, sem custo, válida para o dia todo, e é necessária porque o local é área militar (há um posto CINDACTA lá no topo – pra quem não sabia (como eu), CINDACTA significa Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, e todos os postos ficam em pontos bem altos pelo Brasil). O acesso é bastante fácil, embora íngreme, até o ponto que é considerado o mais frio do país (fica a mais de 1800m de altura)… e a vista, minha gente, é sensacional! O dia estava lindo e foi até difícil escolher as fotos pra colocar aqui, todas ficaram lindas.

Do topo do morro vê-se a famosa Pedra Furada, uma formação rochosa com um buraco no meio (soube que é possível fazer uma trilha guiada até lá, para os mais aventureiros). Nesse dia demos uma câmera na mão dos malinhas, quando fomos ver tinha foto da Pedra Furada que não acabava mais! Eles adoraram a vista e se acharam o máximo por estar num lugar tão alto.

Dali começamos a descer e, na mesma estrada, pegamos a entrada para o local onde fica a Cachoeira Véu de Noiva (nome inédito de cachoeira #sqn). Ela também fica numa propriedade particular (pousada e restaurante bem simpáticos), e nos cobraram R$ 5 por adulto. Seguindo um caminhozinho pavimentado chega-se nela.

Pegamos o carro novamente e, no caminho de volta à cidade, pegamos uma saída pra ver a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Não cheguei a pesquisar exatamente a história dessa gruta, mas é uma gruta natural, de onde verte água, e foi colocada uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes no ponto mais alto. Há escadas e uma rampa de acesso para o local onde está a imagem.

Achamos bem bonito mas meio degradado – havia lixo no chão e na parte de baixo, onde a água empoçava, muita sujeira e mau cheiro. Acho que é o preço da intervenção humana num atrativo natural, uma pena.

Começamos o dia seguinte procurando a Caverna Rio dos Bugres, pegando uma saída na estrada a cerca de 10 km da cidade e seguindo por uma estrada de terra. Essas grutas também ficam em propriedade particular e pagamos R$ 5 por adulto para entrar. A moça que nos recebeu foi extremamente simpática e nos explicou bastante coisa (e nos falou sobre a pousada dali, que fica na parte mais alta da propriedade e deve ter uma vista linda).

As cavernas são grutas subterrâneas, algumas interligadas, algumas atravessam a rocha, outras não têm saída. Ficam num ponto bem alto do terreno, e atrás corre o rio dos Bugres. Há algumas teorias sobre sua origem: os próprios índios (ou bugres, como eram chamados ali) fizeram os buracos para moradia; outra teoria é que a lava de um vulcão teria “furado” as rochas; outra ainda supõe que tatus-gigantes ou bichos-preguiça escavaram as rochas há mais de 10 mil anos.

Eu tenho um certo receio de cavernas mas essas eram bem curtas, e em algum ponto no meio delas há uma espécie de sala, onde dá pra ficar em pé. Malinhas acharam o máximo estar dentro da rocha e termos que usar as lanternas dos celulares em alguns pontos.

Dali voltamos à estrada principal sentido Serra do Corvo Branco. Andamos uns 20 km até nos depararmos com um corredor formado por dois paredões de pedra com 90 m de altura – é o maior corte em rocha no Brasil. Ali naquele ponto começa uma estrada mega sinuosa – que põe a serra do rio do Rastro no chinelo – estreita e sem pavimentação, que liga Urubici ao município de Grão Pará. A paisagem é tão impressionante e o vento tão forte que literalmente tiram o fôlego de quem passa por ali.

Do lado esquerdo de quem começa a descer, as rochas são super úmidas e o vento até molha a gente – por ali passa o Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do mundo (eu também faltei nessa aula de geografia, mas li aqui tudo sobre ele). Nós descemos só umas 2 ou 3 curvas (ficamos com medo que o nosso carro 1.0 não conseguisse subir de volta, pois além de íngreme a estrada não era mais asfaltada), mas foi o suficiente pra ter uma ideia da grandiosidade desse lugar. De longe um dos lugares mais impressionantes em que já estive!

Recuperamos o fôlego e paramos para almoçar no Restaurante Morro da Igreja, que fica bem no início da estrada que leva ao morro. Comida deliciosa e caseira, os proprietários simpaticíssimos, mais que recomendamos uma parada ali.

Após o almoço fomos em busca do último passeio do dia: o Morro do Campestre. Saindo da cidade, pega-se uma estrada de terra por aproximadamente 8 km. O morro fica dentro de uma fazenda e pagamos R$ 5 por adulto. É preciso subir o morro até próximo do cume, a pé ou de carro – nós fomos de carro até quase a última curva, pois a estrada era de cascalho e o carro patinava demais. O ponto mais alto só pode ser alcançado a pé, ou melhor, meio escalando, e marido foi com a malinha mais velha, eu fiquei num ponto mais baixo com o menor. Mesmo do ponto onde eu estava tinha-se uma vista linda do vale (o morro tem mais de 1300 m de altura).

Seguimos então para a pousada e nos despedimos da serra com esse lindo pôr-do-sol, enquanto as crianças brincavam com os gatinhos por ali.

Hospedagem:

Ficamos na Pousada Kiriri-Etê, que fica a cerca de 9 km do centro de Urubici. Pesquisamos bastante antes de decidir, mas a oferta de pousadas por ali não é grande, e pareciam todas muito simples. Depois, chegando lá, vimos que até há várias opções, só não as encontramos online.

A Kiriri-Etê, apesar de longe da cidade (fica encarapitada na Serra do Panelão), foi uma ótima escolha: o quarto era enorme – inclusive com um anexo com 2 camas de solteiro para as crianças -, uma parede de vidro com uma vista maravilhosa, 2 aquecedores disponíveis no quarto (à noite faz muito frio), café da manhã excelente. Pra nós não importou muito a distância da cidade pois nosso plano era mesmo bater perna o dia todo.

Custo: R$ 270/ diária, para nós 4 (preços em setembro/2017)

Dicas & Conclusões:

– A serra catarinense não é a serra gaúcha, com toda aquela estrutura de hospedagem e restaurantes e outros atrativos que não sejam naturais. O forte mesmo são as paisagens de tirar o fôlego!

– Leve dinheiro vivo, porque não há caixas 24h em Urubici (e imagino que nas outras cidadezinhas também não), e apesar da maioria dos lugares aceitar cartão, há momentos que só dinheiro resolve.

– É bom estar psicologicamente preparado para enfrentar curvas e mais curvas nas estradas que ligam uma cidade à outra. Temos muita sorte que nossos malinhas não enjoam no carro, pois isso pode estragar o passeio.

– Recomendo sempre pegar as estradas ainda de dia (coisa que não fizemos), pois há muitos pontos mal conservados nas estradas, pouca sinalização e neblina mesmo de dia. Mesmo a BR-282, a via principal entre o litoral e a serra, tem buracos e sinalização faltando.

– Esqueça internet. Não há sinal bom em nenhum ponto que estivemos, mesmo nas cidades. Nas estradas então, nem pensar.

– Achamos o atendimento, de modo geral, bem regular. Com exceção da pousada e do Restaurante Morro da Igreja, ninguém parecia muito disposto a ser simpático com os turistas. A impressão que ficamos é que os forasteiros nem sempre são bem-vindos pois ainda não há uma cultura forte de exploração do turismo.

– Seguimos uma das dicas que mais apareceram na blogagem coletiva de dia das mães, que participamos em maio: deixar uma câmera fotográfica à disposição das crianças. Meus malinhas adoraram e eu e marido choramos de ri com o resultado: montes de fotos lindas, e algumas engraçadíssimas – pois além de paisagens, eles fotografaram eles mesmos à exaustão. A única coisa é que na próxima viagem vamos dar uma câmera para cada um, pra evitar conflitos. Reforço que é uma ótima dica!


Links úteis:

Página de turismo do estado de Santa Catarina sobre a serra

Guia do visitante ao Parque Nacional de São Joaquim

Post do Guia Viajar Melhor sobre as principais cidades da serra catarinense

Agradecimento especial:

Ao blog Trilhas e Cantos, que nos deu dicas preciosíssimas e muito acuradas dos passeios que fizemos! O blog todo é ótimo, e abaixo os links dos posts que mais nos ajudaram nessa viagem:

Serra Catarinense: Roteiro e Dicas

Serra Catarinense: Urubici em 2 Dias

Para entender tudo desse nosso roteiro em Santa Catarina, veja também:

Post índice: Santa Catarina – parque, serra e praia

Beto Carrero com 2 malinhas

2 dias em Balneário Camboriú a 4

Gosta de ecoturismo? Aqui outros posts bem legais de passeios que já fizemos!

Monte Verde com 2 malinhas

Malinhas na trilha: Bauzinho em São Bento do Sapucaí

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Dicas básicas para curtir trilhas com crianças

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